A conferência para as alterações climáticas, COP26, traduziu-se num acordo entre 197 países, que decidiram um conjunto adicional de compromissos e regras para limitar as emissões de gases com efeito de estufa, e proteger o ambiente e a biodiversidade.

Uma das conclusões marcantes desta conferência foi de que é preciso mobilizar mais financiamento para a mitigação e adaptação do planeta às alterações climáticas. Os compromissos financeiros dos governos e instituições financeiras internacionais tem que aumentar, mas também é necessário mobilizar mais capital privado.

A mobilização de capital privado exige informação sobre entidades e projectos, de elevada qualidade, consistência e comparabilidade, não apenas em matéria climática, mas também sobre outros factores de sustentabilidade. E tem sido largamente apontado pelos intervenientes no mercado, que é necessário desenvolver standards/padrões adequados e respeitados por todos, globalmente. Nesse sentido, deve ser realçada a criação do International Sustainability Standards Board (ISSB), que tem como objectivo desenvolver padrões globais de reporte de informação, primeiro em matéria climática e depois sobre outros factores de sustentabilidade. Esta iniciativa poderá contribuir para o crescimento de um mercado de finanças sustentáveis credível e que ajude os investidores na sua apreciação do valor das empresas e nas decisões de investimento.

A redução das emissões de carbono tem de passar pela definição de incentivos claros, quer para as entidades com níveis mais elevados de emissões e que têm de reduzi-las, quer para aquelas que podem eliminar ou compensar essas emissões (por exemplo, através de plantações de árvores ou de sistemas industriais de captura de carbono). O desenvolvimento de um mercado de carbono verdadeiramente global, com regras claras e aceites por todos, pode ser um incentivo relevante para endereçarmos os desafios climáticos. A COP26 conseguiu, nestas duas semanas, e após seis anos de negociação, concluir um acordo sobre as chamadas regras do Artigo 6.º do Acordo de Paris, que visam estabelecer um novo mercado global de carbono. Estas regras detalham uma estrutura para a negociação de créditos que representam uma tonelada de carbono a ser reduzida ou removida da atmosfera. O desenvolvimento deste mercado deverá atrair mais fundos para investimentos que geram esses créditos – por exemplo, projectos de plantação de zonas verdes ou sistemas mecânicos de captura de carbono – que serão adquiridos por todas as entidades que procurem compensar as suas emissões de CO2. Estes desenvolvimentos poderão constituir um pilar importante no desenvolvimento de soluções de mercado e na oferta de instrumentos financeiros relacionados.

Embora o acordo alcançado possa ter ficado aquém das expectativas e das exigências do desafio que enfrentamos, as reacções de muitos executivos internacionais foram positivas. Curiosamente, constata-se que têm sido as empresas e o sector privado que parecem estar a fazer o maior esforço no sentido da assunção de compromissos claros e determinados. No mundo financeiro, é de destacar o compromisso da Glasgow Financial Alliance for Net Zero, composto por bancos, seguradoras e gestores de activos (com carteiras no valor de 130 biliões de dólares) de reduzirem as emissões associadas às suas carteiras para zero em meados do século.

O Grupo Euronext apresentou no dia 9 de Novembro o seu Plano Estratégico para os próximos três anos, designado “Growth for Impact 2024”. Um dos pilares deste plano tem o foco no desenvolvimento das finanças sustentáveis, e intitula-se “Empower Sustainable Finance”. Neste âmbito, e pela primeira vez, o Grupo Euronext assume o compromisso de se alinhar com os objectivos do Acordo de Paris, pela medida mais restrita de contribuir para não ultrapassarmos um aumento de temperatura de 1,5˚ C. Este compromisso traduzir-se-á na publicação de objectivos quantitativos, validados e certificados pela Science Based Targets Initiative (SBTI).

Em suma, e no que se refere à evolução dos mercados e instrumentos relacionados com as finanças sustentáveis, a COP26 produziu avanços, que os actores dos mercados financeiros e de capitais e as empresas em geral deverão alavancar. Considerando os enormes montantes de financiamento que serão necessários para enfrentarmos a transição energética e o desafio climático, os mercados de capitais terão de, e irão ser uma parte crítica da solução.

 

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